Gôndola

28 de ago. de 2012

Cospe Tempestade


O cenário é a contra realidade, é antagônico, o próprio avesso. É onde o ego sorve a carne, e o que sobra, todo o resto, é apenas verossímil.
Não há rio sagrado serpenteando vastidões, pois tudo é estiado. O único mergulho é o da consciência que, aos poucos, soçobra.

Aqui, a ventania traz consigo versos ininteligíveis sussurrados pela bocarra da tempestade.
E embaralha as grandes dunas deste labiríntico deserto da memória, não deixando, aos que se enveredam por esses caminhos, lembrar onde o primeiro passo foi dado.

As cores são perenes e saturadas, e a tinta que pinta o céu, e a terra, nunca seca.
Há quem diga que se trata de um sonho, alucinação constante.
E aos poucos, a euforia dá lugar ao cansaço.
Mas há sempre o que se celebrar. Portanto, brindemos com o néctar dos nossos devaneios, osculemos o inimigo, confraternizemos com o juiz, o mestre de cerimônias e o capataz.

Zoológico da virtude, museu da demência.
Perguntas pairam no ar, as respostas, entretanto, acabaram.
Somente resta o tempo, aqui e no outro mundo onde o novo alfabeto reescreve a história.
Onde um dia despertaremos.

(escrito em 2004)

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