Gôndola

7 de abr. de 2015

S/T

Chegará o dia em que eu nada mais escreverei, a partir de então.
Se isto será causa ou consequência não consigo imaginar. Mas sinto que a transformação ocorrerá assim, trazendo e levando coisas.
E levará a parte de mim que extravasa com palavras. Meu grito silencioso se calará.
Agora, as idéias se fundem e confundem, as palavras jorram, as lágrimas também escrevem um capítulo da minha história.

Pensar nisso me faz recordar de um grande incêndio.

Aconteceu num bosque perto de casa, eu era um menino pequeno.
Meu pai ajudou a apagar o fogo, e pra isso usou fogo também. Fogo contra fogo.
A causa e a consequência da transformação, indistinguíveis entre si, ambas batalhando contra e a favor uma da outra.
Mas um menino pequeno não entende a beleza de certas dualidades. 
Eu era um menino pequeno, e ver meu pai entrar no meio do fogo me encheu de medo.
Medo de que ele se machucasse, medo de que o plano dele desse errado e o fogo só aumentasse, medo de que ele nunca mais voltasse dos meios das chamas. Medo, medo e medo.
Eu assisti a tudo. Ele sabia o que fazer.
Eu gostaria de saber o que fazer em meio às labaredas que me cercam hoje.

O medo é uma doença que deve ser combatida e escondida, caso impossível de ser eliminada?
A coragem é uma distinção honrosa, uma marca de nascença indelével, a marca do herói?
Os resultados são obtidos, o sejam através da fraqueza, o sejam através da capacidade de voar, ainda que sem asas.

Num arroubo de loucura, num lampejo de coragem, num ato de amor, eu me jogo nas chamas.
Que eu possa, assim espero.





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